domingo, 3 de abril de 2011

Os sonhos e o tempo particular de Marina

Equacionar ecologia e política — com mais destaque para a preservação da natureza do que para a disputa pelo Palácio do Planalto — será o desafio da cineasta Sandra Werneck ao dirigir a ficção em longa-metragem “Marina e o tempo”. Ainda provisório, o título da cinebiografia de Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, já em pré-produção, faz referência a episódios do passado da ex-senadora e ambientalista acreana, candidata à Presidência em 2010. Um passado que envolve alfabetização aos 16 anos, três hepatites, uma parceria profissional com o líder seringueiro Chico Mendes (1944-1988) e o sonho de se tornar a liderança democraticamente eleita do Brasil.

“Na vida de Marina, a noção de tempo é muito louca. Estamos falando de uma mulher que, quando mais jovem, andava de nove a dez horas por dia entre os seringais. Uma mulher crescida numa região onde a notícia da morte do presidente Kennedy só chegou cinco anos depois, numa revista velha”, diz a realizadora de “Pequeno dicionário amoroso” (1997).

Sandra se articula para rodar em maio de 2012 o longa sobre Marina, cuja distribuição foi assegurada pela Downtown Filmes. Codiretora (com Walter Carvalho) do blockbuster “Cazuza — O tempo não para”, visto por 3.082.522 pagantes em 2004, a cineasta diz ter se comprometido com sua biografada a não participar de editais com o projeto, inspirado no livro “Marina, a vida por uma causa”, de Marilia de Camargo Cesar. O orçamento, ainda não definido, pode chegar a R$ 9 milhões por conta das viagens ao Acre.

APOLÍTICO?

“Não quero fazer um filme político. Quero contar uma história de superação, priorizando a trajetória de Marina como mulher e seu envolvimento com questões ecológicas. Revendo meus filmes, percebi que estou sempre contando histórias que apontam para o futuro. Fiz ‘Meninas’, um documentário sobre jovens grávidas de periferia, para mostrar como está nascendo a próxima geração. Falar de ecologia é entender que mundo nossos filhos e nossos netos vão encontrar”, explica Sandra, que espera ter Walter Carvalho como fotógrafo do longa. “Seria um sonho. Tudo vai depender da agenda dele”.

Ficções brasileiras sobre figuras associadas ao poder passaram a ser encaradas com maior cautela pelo mercado cinematográfico nacional após o atribulado desempenho comercial de “Lula, o filho do Brasil” (2010). Rechaçado por uma ala considerável da crítica e por analistas políticos, o longa de Fábio Barreto viu sua ambição resumir-se a uma bilheteria de cerca de 850 mil ingressos vendidos.

Segundo Sandra, Marina tinha um lado reticente acerca do projeto. “Antes, ela não queria se expor. Mas consegui seu apoio integral para o filme, que pode levantar uma reflexão acerca das mudanças do papel da mulher neste país”, diz a cineasta.

Preparada para abrir testes para o elenco em julho deste ano, Sandra ainda não definiu quem vai interpretar Marina.

“Eu já tenho certeza de quem eu quero para o papel de Chico Mendes: Wagner Moura. Em relação ao papel de Marina, ainda existe uma dúvida, embora eu já tenha pensado em uma série de nomes. Por um lado, existe a tentação de trabalhar com uma superatriz e maquiá-la. Por outro, existe a vontade de viver de novo a mesma experiência por que eu e o Walter passamos ao dirigir Daniel de Oliveira em ‘Cazuza’.

Pegamos um jovem ator que não era conhecido, trabalhamos com ele, e Dani virou o que virou: um graaaaaaaande ator”, diz Sandra. “Seria um desafio poder descobrir uma jovem e talentosa atriz, ter um ano para poder ensaiar com ela e transformá-la em uma grande intérprete. E eu costumo ser movida por desafios”. (AG)

Fonte: DIÁRIO DO PARÁ

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