terça-feira, 22 de março de 2011

Marina Silva admite divergências, mas nega desfiliação do PV

A ex-senadora Marina Silva ainda tem esperança de que possa romper o isolamento a que foi submetida na semana passada pelo comando do PV, quando o presidente da partido, José Luiz Penna, no cargo há 12 anos, liderou manobra na Executiva Nacional para prorrogar o mandato por mais um ano.

Marina, que emergiu com quase 20 milhões de votos da disputa pela presidência da República no ano passado, não esconde as divergências com o presidente da sigla, mas nega que esteja disposta a se desfiliar do PV para criar outro partido.

- Não estou cogitando essa história de um novo partido - afirma.

Nesta quinta-feira (24), em São Paulo, a ex-seringueira do Acre participa de uma reunião com a presença, entre outros, de Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis, Sérgio Xavier, Maurício Brusadin, Ricardo Young, Aspásia Camargo e dirigentes regionais que reivindicam reestruturação e democracia no PV.

- Nós não podemos dizer uma coisa e praticar outra. Eu não vou falar para a sociedade em novas formas de fazer política com as velhas formas dentro do meu próprio partido.

É a primeira vez que a ex-senadora se manifesta publicamente desde que as divergências com a direção do PV se agravaram. Veja os principais trechos da conversa.

Prioridades

Estou surpresa, pois, quando fui convidada, o Alfredo Sirkis disse que o PV enfrentava problemas que precisavam ser corrigidos. Todos falaram que estavam com três grandes prioridades: a revisão programática do partido, para colocar a sustentabilidade na centralidade do programa; a reestruturação do partido no sentido da democratização, pois o PV tem 25 anos e a maioria dos diretórios são comissões provisórias nomeadas pelo presidente; por último, que o partido havia tomado a decisão de ter uma candidatura própria, independente de minha adesão ou não ao partido.

Movimento

Durante a campanha nos centramos na questão do programa e da própria campanha e não tinha como fazer a reestruturação do partido, como ficar convocando congressos e convenções. Passada a campanha, sinalizei que era hora de cumprir aquilo que já estava em curso. Eu sabia da resistência, por parte de um setor, de mudar o estilo de um partido centralizado, que não organiza-se para acolher os novos ventos da sociedade. O importante é que nessa desafiadora tarefa de reestruturação e democratização do partido Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis, Sérgio Xavier, Maurício Brusadin, Ricardo Young, Aspásia Camargo e tantos outros que não dá para citar aqui estejam todos unidos. Isso é o importante. Esse movimento não é da Marina. Esse movimento já estava em curso, segundo me disseram quando me convidaram a ingressar no PV.

Partido em rede

Agora só estou pedindo para que a gente dê continuidade à decisão que já existia. Há uma resistência de um grupo, entre os quais o presidente José Luiz Penna e o Zequinha Sarney, mas o mais importante é que o PV histórico, o PV programático, o PV que mobilizou a sociedade e que teve essa clareza, está unido para o desafio posto. Não se trata de uma briga fratricida pelo poder. Eu nem quero ser dirigente, nada, eu só quero ser filiada. Quando falo isso é a mais sincera verdade. Quero ser uma filiada num partido em que as pessoas podem se filiar, votar e escolher seus dirigentes, em que haja abertura e diálogo com as novas formas de comunicação e processos decisórios possibilitados pela internet, que é a idéia de um partido em rede.

Escolha pela caneta

Somos um partido com o qual a sociedade fez aliança e não podemos falar de uma nova forma de fazer política praticando a velha fórmula da disputa do poder pelo poder, das estruturas burocráticas, das alianças incoerentes em vários estados, como aconteceu no Amazonas, Rondônia e tantos outros. Estamos afirmando um projeto e ao afirmar esse projeto, obviamente, nós negamos a escolha dos dirigentes do partido pela caneta. Queremos, como diz o Sirkis, um partido que seja parlamentarista, que não tenha na figura do presidente a figura central. Reconheço o trabalho das pessoas, mas estou tratando de divergências políticas, de visão de partido. Eu acredito em partido em rede, em processos horizontais de tomada de decisões, em parcerias com setores não necessariamente filiados ao partido. Não tem sido assim.

Reunião

Os dirigentes têm sido nomeados, os diretórios são comissões provisórias. Podemos fazer um processo de transição democrática para termos escolhas representativas pelos votos dos filiados do partido. Este é um processo de discussão que envolve seminários e, nesse sentido, sugerimos que fossem feitos em seis meses, mas veio a idéia de se prorrogar o que está aí por mais dois anos e depois o Zequinha Sarney apresentou a proposta de um ano. Se for de um ano, não vai acontecer novamente. Quando chegar 2012, vai vir a alegação de que não dá pra fazer porque é eleição. Essas questões todas estarão sendo discutidas nesta primeira reunião ampliada, na quinta-feira, em São Paulo.

Recomeço

Depois de 25 anos de trabalho árduo, queremos que o PV faça jus a esse legado, o que inclui também o trabalho das pessoas das quais estou divergindo agora. Tanto eu quanto Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira, Sérgio Xavier, Maurício Brusadin, Aspásia Camargo, Ricardo Young e tantos outros do Brasil inteiro, queremos que o PV tenha em si mesmo o que quer ver nos outros partidos. Estamos discutindo a reforma política, e nós podemos antecipar a reforma política que nós queremos para o país e para o sistema político no nosso próprio partido. Nós estamos fazendo tudo de novo dentro PV.

Saída do PV

Não quero trabalhar com especulações. Quero trabalhar para que o PV faça jus a esse legado. Foi o PV que protagonizou isso. Foi o esforço de Gabeira e Sirkis, que vieram da Europa e criaram o partido. Sirkis disse que, se precisasse fazer tudo de novo, ele estaria disposto. Isso é uma expressão retórica para mostrar o quanto a gente tem responsabilidade com as expectativas de um modelo de desenvolvimento e com uma nova forma de fazer política. Nós não podemos dizer uma coisa e praticar outra. Eu não vou falar para a sociedade em novas formas de fazer política com as velhas formas dentro do meu próprio partido.

Novo partido

O nosso esforço é para que o partido se atualize em termos programáticos, integre o programa da campanha ao seu programa, as mudanças de organização da relação com seus filiados, com a sociedade, com as novas tecnologias e com as redes sociais que nós fomos capazes de criar. Não vamos cogitar nenhum outro tipo de caminho. A nova maneira de seguir será pelo caminho que essas pessoas foram abrindo com muita dificuldade ao longo de 25 anos. Não é um novo caminho, mas uma nova maneira de caminhar, integrando essa grande contribuição e legado que nós ajudamos a construir quando lançamos a candidatura e o projeto. Não estou cogitando essa história de um novo partido. A nova maneira de seguir é pelo PV de Fernando Gabeira, Sérgio Xavier, Alfredo Sirkis, Aspásia Camargo e tantas outras pessoas, inclusive aqueles de quem estamos divergindo agora, mas que abriram um caminho ao longo desses 25 anos.

(Terra)


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