domingo, 8 de maio de 2011

Filme sobre a vida de Marina Silva será rodado no começo de 2012

Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR

Há mais de três décadas movida pelos desafios do mercado audiovisual, a carioca Sandra Werneck já deu forma a romances (Pequeno dicionário amoroso e Amores possíveis), revolveu a aura de um ícone musical (Cazuza — O tempo não para) e expôs mazelas brasileiras (Sonhos roubados), mas é na adaptação para as telas do livro Marina: a vida por uma causa que reside uma das maiores pelejas: representar a ética. O escasso valor social saiu da ponta da língua da diretora, quando — em processo de negociações dos direitos do livro —, uma das filhas da ex-candidata à Presidência perguntou: “Qual é a primeira imagem que você vê para o filme?”.

Apesar da simpatia com a qual tem visto o governo da presidente Dilma Rousseff, a diretora não segreda: votou mesmo, à época, foi na candidata do Partido Verde. À frente de um produto que demandará muitas filmagens no Acre, a realizadora estima um orçamento de R$ 9 milhões para o longa que, previsto para ser filmado no começo de 2012, possivelmente não pleiteará montantes de editais, dependendo de conglomerado entre empresas públicas.

“Acho que esse projeto me escolheu. Logo depois das eleições, parei, por acaso, numa entrevista dela e, quando acabou, eu estava completamente emocionada. Fui para a livraria, comprei o livro, li na mesma noite e no dia seguinte disse: ‘Vou fazer esse filme’”, conta a realizadora. Dois meses depois de e-mail propondo a fita, em fins de dezembro, a política recebeu Sandra Werneck. Reticente, e com reservas quanto à exposição, foram mais três meses de suspense até o sinal verde para a adaptação da obra assinada pela jornalista Marília de Camargo César.

“Andava com meu telefone que nem mulher apaixonada esperando ligação do namorado. Até no banheiro eu levava meu celular. Nunca esperei tanto uma ligação na vida”, diverte-se. Na trama, uma leve interferência da ex-ministra já foi estabelecida. “Metade do filme (que deve ser chamado de Marina e o tempo) sou eu, e quero fazer — os outros 50% são da minha família”, teria dito. A diretora, não perdeu tempo, e já conheceu, detidamente, toda a família. Diante do primeiro tratamento do roteiro, ainda sob esboço — “porque a vida dela é uma saga” — a cineasta firma a parceria com Melanie Dimantas (autora dos roteiros de Nome próprio e Olhos azuis).

Em julho, a etapa será de testes para a definição da trinca de atrizes que viverá “diferentes Marinas”, em três fases: dos 8 aos 10 anos, dos 18 aos 30 e dos 30 aos 50 anos. “Vou buscar desconhecidas, mas pretendo contar com uma excelente profissional também. Faremos teste de maquiagem, uma vez que a Marina é cabocla, não sendo negra, nem mulata e nem parda”, explica. Cobrir a vida privada da ambientalista, “menos dividida com a imprensa”, é uma das metas da diretora. “Digamos que reservei 90% do filme para a determinada trajetória de vida dela e 10% para a atuação dela na política”, adianta Sandra Werneck. O risco de um retrato institucionalizado, na autoavaliação, passa a léguas. “Hoje, a Marina não é nada, politicamente: por isso, eu quis fazer o filme. Não é senadora, não é deputada, não sabe nem se vai se candidatar de novo. O filme, claro, vai falar de política, mas muito pouco. Me interesso por ela enquanto mulher, ser humano e alguém ligado ao meio ambiente”, ressalta.

Sobrecarga
A fuga da sobrecarga de temas políticos, porém, não acarretará em lacunas. “Vou abordar a religião — porque faz parte da vida dela, né? —, assim como vamos mostrar a saída dela do PT”, promete. Contornando mal-estar, Werneck é apaziguadora quando o tema é a derrota da cinebiografada nas urnas. “O PT tem uma máquina muito grande e havia uma parte da população bem satisfeita com o governo Lula”, acredita. Os modestos resultados (de bilheteria e crítica) alcançados pelo longa Lula, o filho do Brasil não abatem Sandra Werneck.

“Sigo muito um comentário do Hector Babenco (de Carandiru), que uma vez disse: ‘O público sente o cheiro do filme que ele quer ver’. Talvez o Lula, naquele momento já estivesse muito em evidência, pela mídia”, observa. O reconhecimento internacional da política (vencedora, em 2009, do prêmio norueguês Sophie, por causa dos esforços em projetos para o desenvolvimento sustentável) pode garantir maior visibilidade da fita, fora do país, onde chegou a levar prêmio máximo .“Estou fazendo este filme pra mim. O diretor vive muito da sua fantasia, da sua imaginação e de querer contar uma história que emocione. Primeiramente, a ele, e depois, ao público. Quero que o país conheça a história da Marina”, conclui.

Por Ricardo Daehn, do Correio Braziliense

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