segunda-feira, 24 de maio de 2010

Marina Silva: errei ao votar contra Real e LRF

NA CBN

Por Míriam Leitão

Eu conversei hoje, na CBN, com a pré-candidata Marina Silva, do PV. Leiam abaixo a entrevista na íntegra:
Senadora, a senhora tem dito que é preciso consolidar os avanços dos últimos 16 anos na economia. Mas no governo Fernando Henrique, como todo o PT, a senhora fez oposição a tudo o que nos garantiu a estabilidade da moeda. Por exemplo, a senhora votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Eu quero saber se a senhora se arrepende daqueles votos e, se sim, porque nunca fez autocrítica?

Marina Silva - Eu fiz, Míriam, eu já fiz. E não foi que foi tudo o que o governo fez em relação à questão econômica. Eu acho que a contribuição da CPMF naquela época foi uma grande contribuição para que o governo pudesse ter maior receita para enfrentar os problemas de saúde. E eu, juntamente com o senador Suplicy, fomos dos poucos que votamos favoráveis - e junto com Eduardo Jorge também, fazendo justiça - à questão da CPMF, em que pese a orientação do Partido dos Trabalhadores contrária à votação. No que você falou da responsabilidade fiscal, eu votei contrário, seguindo a orientação do partido, mas hoje, eu reconheço que foi uma coisa acertada. Eu acho até que você pode ter um pensamento num determinado momento, agora, você não pode permanecer com o mesmo pensamento só porque você quer manter aquela posição, quando a realidade já te mostra que você estava equivocada. Eu, em várias oportunidades, reconheci, sim, que foi correta a reforma que foi feita, o ajuste fiscal da parte do governo federal. Obviamente, que eu não tinha a audiência que eu estou tendo agora, mas a minha experiência no Ministério do Meio Ambiente já me mostrou isso e eu reconheci isso, inclusive quando dialogava com os prefeitos, com aqueles que iam até o ministério. Eu sempre fazia esse reconhecimento.

E com relação ao Plano Real. A senhora foi contra ou a favor?
Marina Silva - Olha, com relação ao plano real, eu tinha uma visão contrária, na época. Inclusive nós, equivocadamente, quando fizemos a campanha do presidente Lula, que ele ganhou, foi tudo em cima de combate ao Plano Real. E isso foi uma aprendizagem muito grande para mim, Míriam, porque eu aprendi que nós não podemos deixar de reconhecer as coisas só depois que os governos passam. Essa aprendizagem eu fiz. E já no Senado, mas aí muito na minha área, por exemplo, se você fala da questão econômica, naquela época, quem acompanhava esse assunto era Suplicy, outras pessoas. Eu me dedicava à questão de educação, de saúde, de direitos humanos e meio ambiente. E eu me lembro que quando foi para o presidente Fernando Henrique ir para Johannesburgo, com relação à política ambiental, nós tínhamos que ratificar em poucos meses o protocolo de Kyoto. E havia uma orientação na minha bancada de que não deveríamos votar para que o governo ficasse lá constrangido sem ter ratificado o protocolo. Eu e o senador Lúcio Alcântara trabalhamos muito fortemente para ratificar o protocolo e as pessoas diziam: "Marina, isso vai dar, enfim, luzes para o Fernando Henrique". Eu dizia: eu estou preocupada é com o planeta, é com o meio ambiente e eu quero que o governo brasileiro esteja lá comprometido. Quando o Fernando Henrique fez a medida provisória que ampliou reserva legal de 50% para 80%, não tinha um cristão na base do governo que defendesse a posição do governo, quem defendia era eu. E eu ia para as audiências públicas. Fui uma vez para uma audiência pública lá no estado de Rondônia, dentro de um lugar que fazia rodeios, cheio de pessoas me vaiando. Um jogava espora, outro jogava bota em cima de mim. E eu era a única pessoa que tinha coragem de defender a posição do governo. Então, naquilo que eu acompanhava no mérito, que era correto, que era bom para o Brasil, eu nunca me neguei a apoiar e é só verificar a votação. Mas hoje, você falou isso, e eu digo autocriticamente que foi um erro não termos avaliado que havia um ganho com o Plano Real, ganho que o presidente Lula manteve, inclusive com a Carta aos Brasileiros, só que tem dificuldade de reconhecer isso. Eu acho que a gente não pode reescrever a história. A história está aí para nos ensinar. Eu sempre brinco: se a gente não é sábio para aprender com os erros dos outros que, pelo menos, a gente não pode cometer a estupidez de não aprender com os nossos próprios erros.
Que garantia a gente pode ter que a senhora não vai mudar de ideia de novo? A senhora mudou tão radicalmente em relação a esses dois pontos, o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Marina Silva - Olhe, Míriam, eu acho que mudar de ideia é sempre uma virtude. Eu sempre vi pessoas que não tinham nenhuma identificação com o meio ambiente, por exemplo, e de repente, essas pessoas discutindo, debatendo, foram aprendendo e hoje são completamente aliadas na questão ambiental. É mudar de ideia do lado positivo. Isso a gente só sabe olhando para o caráter das pessoas. Eu, quando vejo alguém que faz um discurso, como faz, às vezes, o governador Blairo Maggi, dizendo que hoje ele é a favor do meio, ambiente, eu sei e eu fico com o pé atrás, né, até porque ele acaba de sofrer uma nova operação, você viu que até o secretário me parece que foi preso. Agora, quando eu vejo pessoas como você, que hoje é uma grande aliada da questão ambiental, defendendo o meio ambiente, eu tenho a absoluta certeza que você mudou de ideia por convicção e porque você, hoje, dá uma grande contribuição para o Brasil naquilo que concerne juntar meio ambiente e economia numa mesma equação. Eu acho que assim como eu respeito e confio no seu caráter, a sociedade brasileira, nesses 30 anos de vida pública, aprendeu a respeitar o meu e saber que, quando mudo de opinião, não é a sabor dos ventos, é por convicção.

Ouça aqui o comentário na CBN

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